sábado, 7 de novembro de 2015

Lira Dos Quinze Anos * Antonio Cabral Filho - RJ

LIRA DOS QUINZE ANOS

Oh que alívio que eu tenho
Daqueles colegas de infância
Com seus mundos cor-de-rosa,
Heróis de história em quadrinho,
Coca-cola, chiclete, carmanguia,
Lencinhos perfumados, documentos,
Sem sombra de movimentos
Que os anos não trazem mais.

Como eram frios os versos
Profundamente românticos!
Mas contra os versos
Profundamente românticos
A alma dos versos meus
É francamente livre
E cospe na cara do eu-lírico
Que caça borboletas azuis.

Oh que alegrias que eu trago
Das minhas gazetas da infância,
Daquelas tardes jongueiras
À sombra dos oitiseiros
Entre o Largo da Carioca
E o tabuleiro da Baiana
Com tudo quanto é quitute,
Cuscuz, cocada, quindins
E os chamegos da mulata.

Oh que saudades que eu tenho
Da minha Avenida Central,
Avenida dos meus sonhos
Colhidos na Cinelândia
E comidos nos Arcos da Lapa
Por alguma linda Brigite
Com beijo gosto de menta
E seios de Marilyn Monroe.

Pobre do espírito pudico
Que nunca esbarrou com Cupido!
Jamais se esbaldou
Nas tabernas da Praça Mauá
Degustando cuba-libre
Com as nossas Bardots,
Nem trocou beijos calientes
Entre senha e contrassenha
Com alguma companheira
Aos cicios “ pela revolução!”
Nas esquinas da Rio Branco.

Livre filho suburbano
Desfilava desafeto
Por meu boulevard sem Paris
Da minha Avenida Central,
Que só virou Rio Branco
Para agradar ditos-cujos,
E ria com meus olhos leigos
Da anarquia arquitetônica
Daquele casario sem eiras,
Que o Pereira “passo” extinguiu
Com um só “bota-baixo”.

Naqueles tempos ruidosos
De ardente adolescência,
Papai montava a cavalo
E saía pra campear,
Mamãe brandia o chicote
E o leite fervia
No fogão a lenha,
Eu era pingente de trem
E ofice-boy da Light
E Che Guevara era bandeira
Nas barricadas de Paris.

Ai que saudades que eu tenho
Da Avenida Rio Branco
Como um palco a céu aberto
P’rum côro de cem mil vozes
Cantando Geraldo Vandré:
“Vem, vamos embora,
Que esperar não é saber,
Quem sabe faz a hora,
Não espera acontecer.”

Mas “saudades” que eu sinto,
“Saudades” que me doem fundo mesmo
São da Avenida Rio Branco
Na Passeata dos Cem Mil
No auge dos meus quinze anos,
Daquela gente bronzeada
Mostrando tanto valor
Só pra mudar o Brasil,

Dos “ bailes” que eu dei nos “ome”
Na Biblioteca Nacional
Com o saco de bola-de-gude,
Do Wladimir trepado no poste
Gritando “Abaixo a Ditadura!”
Alheio ao gás lacrimogênio,
Das balas com endereço certo
E o sangue correndo solto.....
................................................

São “saudades” que a palavra
Lhes recusa a assinatura,
Coisas muito duras para esquecer
Como diz o Rei Roberto,
Mas me fazem muito bem
Que os anos não tragam mais.

Por isso eu sigo cantando
“Caminhando” com Vandré:
“ Vem, vamos embora,
Que esperar não é saber,
Quem sabe faz a hora,
Não espera acontecer.” 
*

Do Pobre Arlequim / Seleta Di Versos - Poesia * Antonio Cabral Filho - RJ

SELETA DI VERSOS
POESIA
Antonio Cabral Filho - RJ

*
 DO POBRE ARLEQUIM

Nasci no sopé das montanhas
Lá onde terminam os bosques
E as florestas se adensam.
Bem cedo aprendi a brincar
Com os habitantes desse mundo
Onde reinam Sacis e Iaras.

Ainda menino fui pras cidades
Sem seio de mãe nem ombro de pai
Órfão de noite e de dia.

Segui sempre o sem-fim dos caminhos
E a poeira das estradas
Tingiu de vermelho os meus sonhos.
E o ronco do motor dos caminhões
É que ninou a soneca do menino
À sombra dos arbustos solidários.

Meu prato requentado e rápido
Eu soube sempre o seu sabor de sal
Temperado de relento e sol. 

Na cidade sou um peixe fora d’água
E vez por outra ponho-me frente aos bares
Perscrutando por que essa gente bebe tanto.

O meu amor não sabe o pranto
Tão fartas comigo foram as mulheres francas
Em darem-se inteiras e detalhes tantos.

Não prometo ser algum dia um gentleman
Mas eu não mijo calçada a fora
Após uns chopes com steinhägen.

***

domingo, 14 de junho de 2015

Política Anti Literária / Seleta Di Versos * Antonio Cabral Filho - RJ

Seleta Di Versos
POESIA
*
Política Anti Literária

O poeta ingênuo sai no pau
com o crítico literário
pra ver qual deles é capaz
de regenerar o poeta oportunista

Enquanto isso
o poeta revolucionário
panfleta nas favelas
o seu sonho visionário

e o poeta maior
o poeta menor
e o dito marginal
fazem bolotinhas
com meleca do nariz

*

sábado, 13 de junho de 2015

Instinto Primitivo / Seleta Di Versos * Antonio Cabral Filho - Rj

Seleta Di Versos
POESIA
*
Instinto Primitivo

Foi assim
sem mais
nem menos
Me aproximei dela
e senti um odor diferente
odor de terra molhada
algo natural mesmo
Lhe cumprimentei
e senti todo meu corpo crispar-se
Ela notou e disse-me 
vem cá
e fomos de mãos dadas
olhos nos olhos
assim
sem mais
nem menos

* * *

sexta-feira, 12 de junho de 2015

Cogitação / Seleta Di Versos * Antonio Cabral Filho - RJ

Seleta Di Versos
POESIA
*
COGITAÇÃO
( Ao amigo e poeta Pedro Giusti )

Pense
pense
&
escreve
se não puder sussurrar

Pense
pense
&
sussurre
se não puder falar

Pense
pense
&
fale
se não puder gritar

* * *

quinta-feira, 11 de junho de 2015

Solilóquio De Inverno / Seleta Di Versos * Antonio Cabral Filho - RJ

Seleta Di Versos
POESIA
*
Solilóquio De Inverno

TUDO ANDA TURVO
cigarras silentes
arbustos estáticos
há muito não noto
formigas nervosas
no seu ir e vir
nem os grilos silvam mais

TUDO ANDA TURVO
sapos aposentando pilões
não sei mais dos agouros da coã
e o bentivi não mais
dedura ninguém
os cães nem ladram mais
nas noites frias
não mais há bêbados
cambaleando as calçadas
rumo ao incerto caminho de casa

TUDO ANDA TURVO
não mais se ouvem amigos
falando alto na esquina
contando estórias de amores furtivos
e mijando a "saideira"
tomada agora pouco

TUDO ANDA TURVO
e não basta dizer
que tudo anda turvo
a manhã vem irrompendo
e Netuno acaba de soltar os ventos
e Vênus balança os cachos
rindo-se de mim
com seu sorriso de ninfa.

*

quarta-feira, 10 de junho de 2015

Lições De Tempo / Seleta Di Versos * Antonio Cabral Filho - RJ

Seleta Di Versos
POESIA
*
Lições De Tempo

Houve um tempo
não muito remoto
em que me preocupei
com a velhice
e até me programei
pra fazê-la agradável
Como lutei fiz planos
formei vasta biblioteca
pra passar o resto
dos meus dias
cercado de livros
Planejei viagens
pra conhecer a Ásia
a Europa a África
e da América
visitar pelo menos
Machu Pichu
Eu queria ser um 
devorador de distâncias
guloso qual um marujo
pirata dos mares revoltos
Mas eu não sabia
que o tempo passa
e que alguns copos de vinho
deixam a gente assim
serelepe

*

terça-feira, 9 de junho de 2015

Me Disseram / Seleta Di Versos * Antonio Cabral Filho - RJ

Seleta Di Versos
POESIA
*
Me Disseram

Eu menino me disseram
que eu era HOMEM
com todas as letras maiúsculas

que eu teria uma mulher
com a qual me casaria
e seríamos felizes para sempre

Porém eu descobri
 o AMOR e a LIBERDADE
e percebi que o amor é livre
e a liberdade não se casa com ninguém

Em seguida me disseram
que todos tinham religião
e me venderam um deus
que eu seguiria para sempre

Porém eu percebi
que havia muitos templos
tantas tendas onde comprar-se um deus
que eu desisti
e fui tachado de ateu

Depois me disseram
que todos tinham ideologia
e me venderam um partido

no qual eu ingressaria
E S P O N T A N E A M E N T E
e a ele serviria enquanto eu quisesse

Tornei-me então violento ativista
mas constatei que todos tinham que ser iguais
e que o ser a si próprio era impossível

até que um dia me avisaram
que eu estava fora do partido
e que não era comunista

Desde então venho notando
que todas as coisas têm preço
e que eu não posso comprar nada
de tudo que tentam vender-me

e ainda assim
o SHOW BUSINESS
não quer deixar-me em paz
por onde quer que eu passo

Como é possível
numa mesma praça
de um lado um religioso
fantasiado de cristo
nos ofertando a paz celestial

e do outro
um comício eleitoral
nos ofertando um streep tease
em troca de voto?

Agora restou-me a pecha:
disseram que eu sou
                                   ANARQUISTA.

***

segunda-feira, 8 de junho de 2015

Ladeira Saint Roman / Soneto / Seleta Di Versos * Antonio Cabral Filho - RJ

Seleta Di Versos
POESIA
*
Ladeira Saint Roman

A histórica Ladeira Saint Roman
quer mostrar o brilho da sua glória
mas, pobre da Ladeira Saint Roman,
não quer censuras em sua história.

A malquista Ladeira Saint Roman
procura por algum herói que diga
o caso Pasquim tantim sem tantan,
mas quer que o faça sem fugir da briga.

A malvista Ladeira Saint Roman
não quer deixar o prazer dessa história
ser degustado depois que morrer.

A "rabuda" Ladeira Saint Roman,
que festejou muita gente ao subir,
diz que não viu tanta gente descer.

***

domingo, 7 de junho de 2015

Brecht Sob o Céu De Berlim / Seleta Di Versos * Antonio Cabral Filho - RJ

Seleta Di Versos 
POESIA
*
Brecht Sob o Céu De Berlim

Olhem para mim, vejam bem!
Eu estou aflito.
Não concebo ficar quieto
diante da situação.
Se o tempo estiver bom
eu saio à rua a passear.
Se não estiver eu saio também.
Não dá pra ficar neutro.
Olhem para o tempo.
Como estão as nuvens,
claras ou turvas?
Ou não há nuvens?
Chove e faz frio
ou o calor é intenso?
Não importa!
Conforme a temperatura
eu respondo à altura.
Não quero saber
se são nuvens de tnt
ou se neve suave de amanhecer.
Meus pés caminham...

***

sábado, 6 de junho de 2015

Poeta De Periferia / Seleta Di Versos * Antonio Cabral Filho - RJ

Seleta Di Versos
POESIA
*
Poeta De Periferia

Nunca tirei um sarro
nos bancos do Central Park
nem aos pés da Estátua da Liberdade
Sequer algum dia
imitei Hugh Grant
rocando boquete
com alguma Divine
nos arredores de Los Angeles
Jamais mijei no Rio Hudson
do vão central da Ponte do Brooklin
e nunca achei graça alguma
em comer pipoca com bacon
no trem fantasma da Disney World
Tampouco nunca peguei um break-fast
em qualquer lanchonete da Wall Sreet

Mas ninguém se assuste
com o meu desdém debochado
pelas coisas suntuosas
dese mundo consumista
É que eu me sinto muito bem
junto aos pés-de-cana
dos butiquins pés sujos
desses guetos suburbanos
onde eu levo minha vida
de poeta proletário
***

sexta-feira, 5 de junho de 2015

Florão Da América / Seleta Di Versos * Antonio Cabral Filho - RJ

Seleta Di Versos
POESIA
*
Florão Da América

O menino era pivete
e se chamava Joãozinho
vivia como engraxate
ganhando a vida por aí
sem Deus e sem diabo pra atentar

Foi estuprado por um maníaco
e encontrado morto na Lapa
dentro de um latão de lixo

Não foi homenageado
com honrarias militares
nem imortalizado
num samba de carnaval

Morreu e está morto
morto, bem morto mesmo
morto até na memória

O menino que era pivete
e se chamava Joãozinho
que vivia como engraxate
ganhando a vida por aí
sem voz sem vez
e sem lugar na HISTÓRIA

***

quinta-feira, 4 de junho de 2015

Seleta Di Versos - Blog Livro * Antonio Cabral Filho - RJ

BLOG SELETA DI VERSOS
http://seletadiversos.blogspot.com.br/ 
EDITOR:
Antonio Cabral Filho - RJ
*
Seleta Di Versos
É o segundo blog que criei com o objetivo de proteger o título do livro e do blog, mas bastaram apenas duas postagens para que tanto email quanto senha fossem bloqueados.
*

quarta-feira, 3 de junho de 2015

Seleta Di Versos Blog * Antonio Cabral Filho - RJ

SELETA DI VERSOS BLOG
http://uaitoto.blogspot.com.br/ 
EDITOR:
Antonio Cabral Filho - RJ
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SELETA DI VERSOS
teve início divulgando meus poemas com maior aceitação, até concluir na formação do livro SELETA DI VERSOS, lançado em meados de 2014, com circulação virtual no Brasil, e, no final do ano, editado em Portugal pela Revista Fênix, da Escritora Carmo Vasconcelos, lançado em novembro para todo o mundo lusófono. 
Infelizmente,
o Google tem por hábito refazer as medidas de segurança, constantemente, a ponto de num certo momento resolver, simplesmente, que o email e a senha que usamos é spam e bloqueia nosso blog com todo nosso trabalho.
ESTA É A RAZÃO
de eu estar reeditando este blog mais uma vez.
ESPERO
contar com a paciência de todos que queiram ajudar-me na divulgação do blog para recuperar o prestígio dos textos antes publicados.
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terça-feira, 2 de junho de 2015

Seleta Di Versos - Poesia * Antonio Cabral Filho - RJ


*

SELETA DI VERSOS

POESIA

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Com O Nosso abraço
Carmo Vasconcelos e Henrique Lacerda Ramalho

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